Mordaça jurídica para pacientes que sofreram erro médico

O sucesso na internet é o maior cartão de visitas dos cirurgiões plásticos Rossini Ruback, que tem mais de 50 mil seguidores nas redes sociais, e do carioca Gilberson Wanderlei, que acumula 190 mil fãs.

No entanto, eles escondiam casos malsucedidos no Rio de Janeiro e na Bahia. Contrato com cláusulas abusivas e até o descaso com pacientes que enfrentavam complicações seríssimas no pós-operatório.

A comerciante Jaqueline Pimentel pagou R$ 38 mil por uma lipo e um implante de silicone. Ela, que foi avaliada por uma chamada de vídeo, contou ao Fantástico que só viu o médico pessoalmente na cirurgia.

“Nem a alta ele me deu. Ele deixou meu corpo acabado e não me respondia. Agora, não é só comigo. São outras mulheres que não sabem o que ele faz, que é vítima, que estão silenciadas", diz Jaqueline, que foi a primeira paciente a vir a público e expor toda a situação nas redes sociais.


Algumas pacientes se juntaram e formaram um grupo para denunciar o médico Gilberson Wanderlei. Mas não fácil convencer as vítimas a seguirem em frente com a denúncia. Todas tinham assinado um contrato com uma cláusula de sigilo completo caso houvesse qualquer tipo de sequela. A multa era de R$50 mil reais mais 30% do valor da cirurgia.

A cláusula de sigilo no contrato é justamente para calar as pacientes e para tentar esconder as cirurgias que não dão certo.



“É abusiva, é como uma mordaça jurídica”.


A esteticista Louredo Débora teve complicações seríssimas no pós-operatório. Chegou a enviar um vídeo para médico pedindo socorro. Mas ela acabou sendo acusada de chantagem pelo cirurgião.

“Eu descobriu que estava com anemia muito severa, teve que mandar vir bolsa de sangue de outra cidade para mim”, lembra ela, que estava sem conseguir por o pé no chão e com dificuldade para falar.

O Fantástico entrou em contato com os dois médicos.

Rossini Ruback não atendeu as ligações. O advogado dele encaminhou uma nota em que diz serem totalmente falsas as acusações sobre as cirurgias sem anestesia. Informou que o doutor jamais foi condenado judicialmente por qualquer conduta médica e que os documentos confidenciais das cirurgias de cada paciente estão à disposição da Justiça e dos órgãos competentes. Na nota o advogado disse ainda que não considera erro médico o fato de os resultados não terem sido satisfatórios para as pacientes nem mesmo dos procedimentos terem gerado complicações.

O Conselho Federal de Medicina informou que Rossini Ruback tem registro regular, com especialização em cirurgia plástica.

No caso de Gilberson Wanderley, o registro também está regular, mas sem especialidades. O médico atendeu a uma chamada de vídeo, mas não quis dar entrevista sobre os casos mostrados na reportagem. O advogado dele encaminhou uma nota em que diz que o médico é vítima de uma campanha difamatória e negou os erros médicos.

A Polícia Civil da Bahia investiga oito denúncias envolvendo os dois médicos, em Itabuna e em Porto Seguro. Os inquéritos ainda não foram finalizados.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica disse que acompanha os casos denunciados.


Em um mundo cada vez mais conectado, é comum que as pessoas busquem referências na internet antes de tomar qualquer decisão, inclusive ao escolher um médico cirurgião plástico. No entanto, é importante destacar que a presença nas redes sociais não deve ser o único critério de escolha.

A qualidade do trabalho e a segurança do paciente devem ser prioridades em qualquer procedimento cirúrgico. Por isso, é fundamental procurar um médico cirurgião plástico qualificado e especializado na área em que se deseja realizar a intervenção.

Além disso, é necessário avaliar a experiência do médico, sua conduta ética e profissionalismo. É importante verificar se ele é registrado no Conselho Regional de Medicina (CRM) e se possui especialização na área da cirurgia plástica.

Por outro lado, é preciso ter cautela ao avaliar as redes sociais de um médico. O número de seguidores não deve ser o principal critério de escolha, já que muitas vezes eles podem ser comprados. Também é importante lembrar que postar apenas resultados excelentes não significa que o médico não tenha tido maus resultados ou cometido erros.

Por isso, antes de escolher um médico cirurgião plástico, é importante fazer uma pesquisa criteriosa e buscar referências de pacientes que já realizaram procedimentos com ele. Além disso, é fundamental agendar uma consulta e esclarecer todas as dúvidas antes de tomar uma decisão. Dessa forma, é possível garantir a segurança e a qualidade do procedimento cirúrgico.

Na dúvida, procure orientações com um advogado que entenda da área de erros médicos e processos judiciais para indenizações nesses casos.